terça-feira, abril 10, 2007

Viagem de táxi

A maior parte de nós tem ideias pré-concebidas(*) acerca dos taxistas: pessoas com pouca cultura, conversas sempre iguais, ocasionalmente encontramos um que faz uso do vernáculo de uma forma soberba (estamos sempre a aprender!). Mas o que é certo é que essas ideias pré-concebidas tendem a confirmar-se, assim como as excepções que confirmam a regra também.

Em Singapura, a conversa típica com um taxista segue este rumo:

"So, where are you from?"
"Portugal."

"Aaaaah! Figo, Cristiano Ronaldo!"
"Yes, that's right!"

[...]

Mas e se de repente a conversa fosse a seguinte:

"So, where are you from?"
"Portugal"

"Ah! Portugal! I was in Lisbon in 1961!"
....

A partir daqui a conversa continua, desde o Cristo Rei, até uma impressionante demonstração de História:
  • A morte de Fernão de Magalhães nas Filipinas
  • O porquê de um dos nomes alternativos de Taiwan ser "Formosa"
  • As circunstâncias da fundação de Macau
E se esta conversa tivesse acontecido mesmo? Impossível? Não, improvável!
E o improvável também acontece! Dei comigo numa interessante troca de ideias num táxi, com um taxista que já foi membro da marinha mercante de Singapura!

O que dizer de um habitante desta ilha que ensinaria episódios da História de Portugal a 85% da nossa população?

Não tenho palavras!

No meio de tanta excitação, a viagem ia ficando cara! Saio sem pedir o recibo dos S$18 da viagem, mas consigo ainda voltar para trás a tempo! Se bem que por S$18 há conversas e surpresas que valem a pena!

Jantei com um pensamento na cabeça: o que fazia uma pessoa daquelas, com 68 anos de vida e uma experiência acumulada de fazer inveja a muitos (ou a praticamente todos) atrás do volante de um táxi...(*)

5 comentários:

José Carlos Gomes disse...

Eu só costumava encontrar taxistas dos normais: grunhos até dizer chega... Mas a verdade é que nunca contactei com qualquer um fora de Portugal.

AS disse...

Ás vezes, simplesmente, as pessoas são o que querem ser, mesmo que a nós nos pareça estranho...

Nuno Sal disse...

De facto acho quase impossivel que esse episódio se pudesse passar em Portugal...

D. disse...

quando se tem a possibilidade de viajar mundo fora, os imporváveis tornam-se mais prováveis. embora em Portugal normalmente os taxistas não tenham muita cultura (porque a maioria da população também não a tem), lá fora certamente que existem realidades diferentes.

McBrain disse...

Por acaso no dia a seguir encontrei um taxista que já tinha morado na Europa e já tinha estado em mais países da Europa que a maioria de nós....

Mas para mim, isso são coincidências, já apanhei taxistas muito muito muito cromos mesmo.

Esqueci-me de dar como exemplo os taxistas dinamarqueses: na maioria emigrantes, não falam inglês (bem, em Portugal também não!), possivelmente o seu dinamarquês é pouco melhor que o meu, etc...

Portanto... acho que tive sorte mesmo!