sábado, dezembro 12, 2009

Tirando o pó às cassetes

Hoje decidi abrir uma gaveta em casa dos meus pais há muito fechada; dentro dela encontrei, por debaixo de uns quantos papéis sem interesse aparente, um espólio que conservo por nada mais que puro sentimentalismo: as minhas cassetes de áudio. "Naquele tempo", as cassetes chegavam e sobravam, e os CD eram muito caros. De entre todas, seleccionei uma das minhas preferidas, uma BASF Super Chrome II de 90 minutos; num dos lados, está gravado isto, uma das minhas canções daquela que para mim é a banda emblemática dos anos 90. Pode não ser a minha favorita, mas álbuns como "Automatic For the People" ou "Monster" são do melhor que se fez naquele tempo. E de todas as faixas dessa banda, esta é para mim a melhor; tão simples musicalmente, e tão poderosa ao mesmo tempo.

R.E.M., "Drive".



Hey kids, rock and roll
Nobody tells you where to go, baby

"É por isto que os nossos meninos andam aí nas drogas"

Lisboa, Teatro Municipal de S. Luiz.

"O que se leva desta vida" é a peça que se encontra em exibição desde há algum tempo. À partida, não parece ser o estilo de teatro que mais me atraia: uma peça sobre cozinheiros...
Seja como for, várias circunstâncias levaram-me a ir ver esta obra, cujos principais protagonistas, Gonçalo Waddington e Tiago Rodrigues, representam o papel de dois reputados "chefs", enquanto um suposto repórter filma a acção dos dois mestres na cozinha e dos seus "ajudantes", que são na verdade quem efectua o trabalho.

A inovação da peça encontra-se no facto de durante a peça os pratos serem de facto cozinhados, o que não deixa de ser interessante (mas se calhar, e para ser objectivo, é mesmo o único ponto interessante desta peça).

Outro facto de salientar é o facto do extensivo uso do vernáculo durante a peça. E quando digo extensivo, digo que nunca ouvi tantos palavrões na minha vida em tão curto espaço de tempo. E é aqui que a porca torce o rabo....

Alguma alma inteligente teve a brilhante ideia de convidar para ver esta peça um grupo de idosos do Inatel. Sim, em vez de os mandarem para um "espectáculo bonito" como o do La Féria ou uma "Revista", não, arranjam-lhes bilhetes para uma obra destas. O resultado é simples: a peça interrompida a meio, os artistas vaiados, e um conjunto de opiniões que podemos ver em seguida.



"E é precisamente por isto que os nossos meninos, a nossa mocidade, os nossos meninos, andam aí nas drogas, precisamente porque aquilo que lhes ensinam é isto, em vez de lhes ensinarem o A e o B" ou "Isto está pior que no tempo do Salazar".

Eu fui ver a peça, assumo-o. Agora, ninguém precisa de saber que graças a esta peça fiz a minha iniciação às drogas duras nessa mesma noite. Claro.