quinta-feira, abril 30, 2009

O álbum do ano

Quase todos os anos há um filme e/ou álbum que me marca(m). A sensação é interessante, e chega ao ponto de ser Janeiro e eu dar comigo a pensar "este é o filme do ano". Por exemplo, vi o "Departed" em Janeiro e sabia que aquele ia ser para mim o filme do ano. E assim foi...

A nível musical, tenho vários álbuns do ano: o homónimo de Portishead, o "Silent Enigma" de Anathema, "Psalm 69" de Ministry...

Saliente-se no entanto que nem todos os anos têm um álbum do ano... mas 2009 tem. Um sólido álbum do ano, que eu tenho ouvido em loop, e que é uma autêntica pedrada no charco do panorama musical, na minha opinião.

É claro que toda esta argumentação cai por terra quando se menciona o autor do álbum, nada mais nada menos que Steven Wilson, o frontman dos Porcupine Tree. Avaliação parcial? Talvez, mas baseada na gestão das expectactivas: a verdade é que este álbum excedeu largamente as minhas expectativas mais optimistas. É arrojado, a produção é fenomenal... a impressão que dá é que "a fera se libertou" das cadeias progressivas dos Porcupine Tree, e da monotonia drone de Bass Communion, e... soltou-se o artista! Ouvi falar desta obra-prima aquando do concerto de Porcupine Tree há uns meses largos, ainda em 2008, mas para ser sincero nem prestei muita atenção ao que estava para vir... erro crasso!

Entre momentos mais calmos misturados com autênticas partes caóticas, esta peça oferece-nos um pouco de tudo...
Acima de tudo, é o álbum que retrata emoções mais fortes (que eu conheça, pelo menos!)... chego a acabar de o ouvir cansado, quase prostrado. Será que isto é razão para não o voltar a ouvir? Claro que não.

Fiquem com Harmony Korine (que descobri agora mesmo ser o nome do argumentista de "Kids" e "Ken Park"!)... o clipe é mesmo impressionante, muit bem produzido, na mesma linha do álbum.


sexta-feira, abril 24, 2009

E Depois do Adeus...

A esta hora, há 35 anos, nos Emissores Associados de Lisboa, ouvia-se isto:



E estava dado o tiro de partida para sermos grande parte do que somos hoje, para o bem e para o mal.

E pode haver qum diga que agora há falta de respeito e de segurança e que era preciso era "um Salazar em cada esquina".

Mas eu não me conseguia imaginar num país onde não podia ser quem queria. Onde a palavra liberdade não se aplica à "formiga que vem em sentido diferente", apesar dos "Vampiros" que ainda assolam o nosso dia a dia e dos tiques de prepotência dos governos que se vêem com maioria absoluta.
Melhor assim, de qualquer modo. Ao menos posso pensar... e na maior parte das vezes dizer.

É incrível ver o que éramos. Ao ver os documentários, parece que recuamos 100 anos no tempo, e não 40 ou 50. Era o país que tínhamos. Um país onde metade da população não sabia ler nem escrever, mantida ignorante (propositadamente) por uma elite agarrada ao poder. É este o "respeito" que muita gente quer de volta?

...e o que eu não dava para ter estado ....

Falta-me falar da canção em si. Isolada ou não do 25 de Abril de 1974, é genial. A letra é linda, muito bem orquestrada e a voz do Paulo de Carvalho "enche" a música de uma maneira fantástica. Já a ouvi uma dúzia de vezes nos últimos dias e confesso que termino sempre com um arrepio na espinha.

Bela maneira de celebrar a revolução.

quarta-feira, abril 22, 2009

Flight 666

Estou a beber a minha bebida pós concerto, ou seja, um gin tónico.

Porém, não vim de um concerto. Aliás, vim de um concerto. Perdão, vim de uma sala de cinema. Vim de um concerto numa sala de cinema. Vim de um documentário numa sala de cinema. Vim do FLIGHT 666!

Foi há uns dias que PdC (e não, não é Pinto da Costa!) me indicou este linque do Público. Uma única sessão. Que iria esgotar, de certeza. Comprei logo bilhete no próprio dia (vantagens de reservar pela internet...). O conceito intrigava-me. Estava a par da tour única dos Maiden (pegar num Boeing 757, pintá-lo com as cores da banda e com o Eddie, meter a banda + a crew + 12 toneladas de equipamento e viajar à volta do mundo (eheheh), com o frontman Bruce Dickinson himself a pilotar o avião (sim, o homem tem um brevet de piloto comercial). Conceito arrojado e único. Uma tour imensa.

...e um documentário brilhante para quem é fã da banda como eu. Tenho quase tudo o que se pode ter de Maiden em quase todos os formatos, e esta visão para dentro do que é acompanhar uma banda em digressão foi única.

70000 km, 4 continentes, 23 concertos em 45 dias (via Bombaim, Sydney, Toóquio, Los Angeles, Costa Rica, Cidade do México, Bogotá, São Paulo, Buenos Aires, Santiago do Chile, Porto Rico, Nova Iorque & Toronto). É obra. E o resultado é algo parecido com isto.



O resultado é um arrepio na espinha de princípio ao fim, algo que o trailer não mostra. Só dá vontade de sair do cinema e ir para um concerto logo em seguida. Infelizmente o documentário não reflecte a segunda parte da digressão, nem inclui o concerto de Lisboa (já relatado aqui).

Nota altamente positiva para a imagem. Alta definição. Sem uma única falha que eu tenha notado. Brilhante.

Nota altamente negativa para o som. Talvez alguém se tenha esquecido que estávamos na presença de uma mistura de concerto com documentário, e os graves devem ter ficado em casa de alguém. Na primeira canção, tive que adivinhar a bateria. Daí para a frente, esta já se tornou audível, mas o som estava demasiado alto, mas não demasiado bom (bem pelo contrário!)

Valeu pelo feeling, pela vontade de me levantar da cadeira e andar aos saltos a cantar. É que vocês não sabem o que perderam. Eu sei! Mas não perdi... adorei!

domingo, abril 12, 2009

Educação Sexual? É anti-democrático!

Adivinha quem voltou? Sim, a Associação Portugal Pró-Vida! Pois, já se esqueceram das suas vigílias mensais contra o estabelecimento de um Estado Laic^H^H^H da lei do aborto? Eu já nem me lembrava.

Mas como há que marcar presença, nada como continuar a luta pela Vida. E como é que se faz isso? Sendo contra a Educação Sexual nas escolas! Sim, é assim que luta pela Vida.

Luís Botelho Ribeiro, cabeça pensante (?!?!?!) desta Associação, proclama a seguinte ideia aqui e aqui.

«A obrigatoriedade dos alunos frequentarem as aulas de Educação Sexual é anti-democrática e muito perigosa para a sociedade portuguesa»

«Enquanto pais, o Estado está-nos a tirar o direito de decidir sobre a educação que queremos dar aos nossos filhos e isso é claramente anti-constitucional».

As críticas referem-se ao facto, claro de se falar de SEXO. De sexo de forma adequada às idades, com as preocupações próprias de cada segmento. Ah, onde estão as velhas tradições de educação sexual praticada pelo pai na própria filha que enriquece este país? Ou os padres pederastas que são calmamente mudados de paróquia, não vá o escândalo levantar-se? Ai, se o Sr. Dr. Oliveira Salazar estivesse vivo, nada disto acontecia.

Seja como for, tenho uma curiosidade quase mórbida (sim, só pode ser mórbido quem presta atenção a esta gente, mea culpa, mea culpa), sobre quem, a cobro dos sectores mais retrógrados da Igreja Católica, vem a praça pública condenar a educação que todos os seres humanos (excepto os sacerdotes católicos, salvo erro) necessitam. Se calhar alguns seres com 60 anos precisavam mais dessa educação que os seus netos, mas nada é perfeito, não é?

As únicas críticas que leio são relativas à falta de elementos de natureza sexual como o casamento, o amor, a família. Desloquei-me ao blogue desta Associação e li com alguma atenção a sua retórica. Fiquei com a nítida sensação que as saudades do lápis azul são muitas e que a sexualidade devia ser encarada sempre de um ponto de vista Católico, tendo em conta que «As ideias e os ensinamentos que vão ser transmitidos aos estudantes vão fazer com que, daqui a poucos anos, tenhamos uma geração de portugueses para quem nada é proibido nem moral, nem eticamente».

Sinceramente, já me aborrece a mesma conversa de sempre, encabeçada por João César das Neves e seus acólitos. Que daqui a 30 anos isto vai ser Sodoma e Gomorra juntas, que vamos praticar o sexo livre no meio da rua, que ninguém quer saber da família.

Porque o importante é proibir. Acho interessante que estes grupos de pessoas refiram que se acham no direito de dar a educação sexual que preferem aos filhos, quando toda a gente sabe que na maior parte das vezes esta é.... inexistente! Assumam-no com frontalidade e digam: "Sim, eu quero que o meu filho(a) nada saiba sobre sexo, para além das ideias que eu lhe possa eventualmente meter na cabeça, como por exemplo:
  • sexo antes do casamento: inferno e danação eterna (letras pequeninas: se fores homem, está tudo bem, se fores mulheres, dou-te uma coça de cinto que te mando para o hospital, minha rameira!)
  • proposta de iniciação sexual (para os filhos machos, claro) indo o pai com o filho a um bordel, como se fazia antigamente, ou em alternativa, o Estado, através da Junta de Freguesia, fornece a camioneta da Junta para uma iniciação em grupo. Ah, those were the days....
  • se te masturbares, morrerás, após te terem caído todos os membros, teres ficado cego, surdo, mudo, e leproso.
  • prazer derivado do sexo: só é bom quando é para efeitos de reprodução; há que seguir as normas da Santa Madre Igreja, e referir que o único sexo legítimo é aquele em que uma mulher que não está sobre o efeito de uma pílula anti-concepcional tem as suas paredes vaginais esfregadas por um membro viril masculino que ejacula dentro da primeira. Exclui-se o coitus interruptus, se bem que seguir o exemplo de Onan e desperdiçar a semente é algo que me parece um contra-senso. (uma explicação simples sobre este facto pode ser consultada aqui.)
  • corolário do artigo anterior: o clitóris é um mito, o orgasmo feminino é um mito, e a vagina é um local para onde escorre a semente masculina
  • o marido é o chefe de família, e como homem que é, tem necessidades (a mulher não, vide alinea anterior); assim sendo, e tendo em conta que a mulher é a mãe dos filhos (legítimos), e é com a sua boca que beija os filhos, a procura de uma outra mulher é algo que se compreende; aliás, vejam a quantidade de filhos bastardos de qualidade que o nosso país gerou: D. João I, Camilo Castelo Branco, por exemplo!
  • homossexualidade = danação eterna => vá para o Inferno. Vá sem passar pelo Purgatório e sem receber 2000$ (lamento, o meu Monopólio ainda não é em Euros). Excluem-se as lésbicas, porque ficam sempre bem em filmes porno."
Note-se que estes "valores" aqui referidos eram práticas correntes e abraçadas/consentidas pelas associações de Defesa da Vida existentes desde o início da nacionalidade (também chamados de Igreja Católica Apostólica Romana)! Para quê mudar?

Agora, numa onda mais séria, e se excluirmos todos preconceitos e tabus que tais associações desejam incutir no nosso país, vejo uma solução simples: porque é que essas famílias não incutem os valores de família, de amor, de respeito ao próximo elas próprias?

Será que estes valores cató^H^H^H de família, casamento, etc, complementam o que é ensinado na escola? Ou será que contradizem? Pois...

Malditos médicos e cientistas que contradizem os ditames da Santa Madre Igreja.... se as fogueiras ainda estivessem acesas no Terreiro do Paço e no Rossio, nada disto acontecia!

Fim de semana Cultural (Pt. III) - Walküre/Valquíria

Ainda referente a um passado fim de semana muito cultural, ficou por contar a ida ao cinema. Tenho tido sorte nas minhas deslocações cinéfilas: têm sido acertadas e preenchidas por filmes que me satisfazem plenamente (ao contrário dos que tenho visualizado em casa).

... e claro, "Valquíria" não é excepção. Quem me conhece sabe que sou um aficionado de história (e quando me refiro a aficionado não falo dessa "coisa tradicional" que é maltratar animais também conhecida como tourada), pelo que não podia faltar.

Para quem (ainda) não sabe, o filme desenrola-se à volta de uma das várias tentativas para por fim à vida de Adolf Hitler, tendo sido a que mais próxima esteve de ter sucesso, não só pelo atentado em si, como pela forma como planeava todo o processo de golpe de estado. Valquíria é na verdade o nome da "operação de continuidade" desencadeada pelo Exército de Reserva alemão no caso de uma situação de caos e desobediência civil / tentativa de derrubar o poder, e é aqui que entra o Coronel Claus Schenk Graf von Stauffenberg...



Sem entrar em detalhes históricos (e foram mesmo os mínimos detalhes que deitaram tudo a perder, como se pode ver no filme), a acção é muito fiel ao que se passou na realidade, e no entanto o realizador Bryan Singer consegue abster-se da vertente documental que poderia ser mais aborrecida para alguns.

Concluindo: se ainda não viram, vão ver (ou aluguem!). No final do filme ficarão mais sábios, e terão simultaneamente passado por um par de horas de bom entertenimento. O que se pode pedir mais? Ah, já sei, uma banda sonora de luxo assinada por John Ottman! Fica como amostra a fantástica peça coral, inspirada num poema de Goethe e que encerra o filme e que me fez ficar quase até ao final dos créditos finais.



Süßer Friede,
Komm, ach komm in meine Brust!

sexta-feira, abril 10, 2009

What's been running in my head - Part VIII

Tendo indo ao meu antro de perdição que é a Carbono da Amadora em busca de uma raridade em vinil dos grandes Opeth (que estava já esgotada), acabei por, numa atitude de "consolo", adquirir quase às escuras um álbum dos costumeiros Porcupine Tree que ainda não tinha (não tinha sequer ouvido), de seu nome Coma Divine. Gravado ao vivo em Roma, em 1997, é uma boa amostra da banda até essa altura, sendo o enfoque em Signify, álbum de estúdio de 1996, e curiosamente o meu primeiro contacto com Steve Wilson & Ca.


A re-edição de 2003, que adquiri, é a versão em duplo CD, e com toda a beleza que a banda de facto merece (porque para mim os CD continuam a ter a sua mística, e o embrulho também conta... «materalistazinho, hein?»)

Serviu no entanto Coma Divine para me relembrar quão bela é Waiting (Phase I), uma já velha conhecida, e talvez, em paralelo com Moonloop, os pontos altos deste álbum. Sendo no entanto a primeira mais fácil de ouvir, fica aqui a sugestão. Divirtam-se e prestem atenção às letras...



Waiting... to be born again

Wanting... the saddest kind of pain
Waiting for the day when I will crawl away

Nothing is what I feel
Waiting... for the drugs to make it real
Waiting... for the day when I will crawl away

Waiting... to be disciplined
Aching... for your nails across my skin
Waiting... for the day when I will crawl away