quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Into the Wild

Tenho sido presenteado recentemente com momentos raros de bom cinema. E regressei agora de mais um momento fantástico.

Pela segunda vez na vida saio da sala quase sem palavras, com a a respiração alterada, com a percepção (sei lá de quê!) alterada, a pensar no sentido de tudo e de nada. A primeira vez passou-se com o diametralmente oposto "Fight Club", e desta vez com a obra-prima de Sean Penn, "Into the Wild".



A viagem de alguém que se quer libertar do que o atormenta (mas que na verdade não fez mais do que fugir... e já estou a falar de mais!), e que nos faz sentir, como diz a expressão "uns meninos".

Esqueçam a merda do vosso conforto material, do vosso carro, do vosso computador, dos sapatos, da merda do empréstimo que vos atormenta, das pessoas com que se relacionam e que não prestam. Deitem tudo fora e vivam. Vivam como Cristopher McCandless.

Não é um filme fácil, mas é um filme lindo, e a palavra chave aqui é uma só: visceral.

Notas especiais para todas as belíssimas citações do filme, de autores como Thoreau e Tolstoi. Uma especial menção para talvez a última citação, escrita pela mão da personagem principal entre dois parágrafos de um livro. Verdadeira...

Uma outra nota especial para a banda sonora. Basta ouvir os primeiros 10 segundos do filme para perceber quem canta e dar conta que a música tem um papel preponderante nas 2:20 horas seguintes. O Eddie Vedder é sem dúvida o homem certo.

Curiosamente, não quero ver o filme de novo tão cedo. O estado em que nos deixa não recomenda segunda dose sem recuperar as nódoas negras da primeira vez.

Quem ainda não foi... só recomendo que vá. Deixe o capacete e a armadura em casa e vá, despido de tudo o que é defesa, levar uma boa porrada. Sabe bem e a mente agradece. Vão por mim.

domingo, fevereiro 17, 2008

Fim de Semana Gastronómico - Parte I

Este fim de semana foi talvez dos mais pantagruélicos que tenho memória. Comi bem e (infelizmente para a minha saudinha) comi também muito. Mas soube bem...

Comecei com um jantar no grande Tapadinha. Comida russa, comida boa. Caro q.b., mas não só vale pelo paladar, como pelo ambiente do restaurante, no mínimo digno de despertar interesse.

Comecei com uma vodka ritual (desta vez de maracujá). Má ideia, deveria ter apostado numa vodka de marca, sem sabor. Não seria nenhuma Grey Goose, mas pelo menos algo com mais qualidade.

A entrada consistiu numa salada de caranguejo com maçã, algo desinteressante e deslavada. Tive no entanto a oportunidade de experimentar algo verdadeiramente inovador e saboroso: borshe, ou seja, uma sopa à base de beterraba e cebola, uma verdadeira delícia. A experimentar de uma próxima vez. Interessante também foi um couvert de ovo com anchova, muito bom!

Como prato principal, escolhi o óbvio: um bife tártaro, um verdadeiro manjar dos deuses, acompanhado de batatas fritas em cubos (um pouco salgadas) e uns saborosíssimos e adequados vegetais avinagrados (cenoura e beterraba, neste caso).
Para quem não sabe o que é um bife tártaro, não é mais do que carne de vaca (ou cavalo) levemente marinado, frio, e sim, cru, com especiarias e alcaparras, que depois é colocado em frio e servido numa tigela.

O mistério é que de facto a carne se desfaz na boca sem necessidade de ser mastigada. Uma experiência única.

Pequena nota para a Baltika Nº 6 que serviu de bebida: cerveja forte, preta. Um pouco forte de mais e com sabor a menos para o meu gosto. Mas bebe-se...

Terminei com um tarte de queijo com mel e nozes, que não estava mal, não senhor.

Preço final: 28 euros. Preço muito razoável para a lauta refeição. Jantar longo, bom ambiente, no qual os clientes parecem estar mais interessados em saborear a refeição do que entreter-se com conversas (o que não deixa de ser interessante, considerando a densidade de mesas.

sábado, fevereiro 09, 2008

Música de antanho

É o que dá visitar a casa da avó: muita bela música na bela cassete.

(a qualidade da foto não está 100%, mas dá para perceber; clicar na foto para aumentar)

E este sistema de som de antanho? Ah pois é! :-)

Mas não se precupem, que sei que o que hoje é moderno amanhã de antanho será... as cassetes, as aparelhagens, e às vezes até nós!

Pegadas na Neve

E se as marcas que nos deixam nesta vida fossem como estas pegadas na neve, ou seja, se se derretessem aos primeiros pingos de chuva ou raios de sol?

Munique, 15-11-2007

De uma coisa estou certo, estas pegadas já se apagaram de Munique...

domingo, fevereiro 03, 2008

Paga, caloteiro!

Hoje apanhei o susto de uma vida, ou quase...

Uns minutos após o envio de um a mensagem de e-mail por parte do meu pai, este recebe-a devolvida, com a indicação que o domínio não existe.

Após algum espanto e incredulidade, decido verificar... e de facto o domínio, para o servidor de DNS da Net que sai pelo cabo, não existe!!!

Vou de imediato ao meu gestor de domínios, que me indica que este tinha expirado no dia 31 de Janeiro de 2008... e eu tinha-me esquecido de o renovar!!!

Procedi de imediato à renovação do mesmo, tendo em seguida reposto as correctas configurações de e-mail no meu fornecedor deste serviço. Tempo total de downtime, cerca de 12 horas apenas, espero (já bem bom foi o prazo ter-se extendido mais 2 dias do que era suposto!)

Assim sendo, para quem me enviou e-mails para o endereço do costume e os teve devolvidos: descansem, o e-mail está de volta nos próximos dois anos, e aguarda as vossas mensagens, claro! Venham ela, que ele não tem medo!!! Quantas são, quantas são???? :-)

Moda na Arábia Saudita

Muitos de vós pensarão que a Arábia Saudita é uma sociedade repressora, e que por exemplo, mesmo comprar roupa será um trabalho complicado.

Facto 1: Sim, as lojas de roupa interior feminina estão de um modo geral em pisos interditos a homens (pelo menos as que vi... foi muito ao longe, porque simplesmente tinha o acesso barrado).

Facto 2: O resto das roupas não deverá representar qualquer problema. Quer dizer... quase! Senão verifiquem esta fotografia tirada à porta de um centro comercial.

Mas que raio fizeram aos modelos???
Creio que software do estilo do Adobe Photoshop deve ser muito popular por estes lados. Por exemplo, ir a uma loja de música é um regalo para quem deseja ver capaz alternativas: se por ventura o álbum em questão é um pouco mais "atrevido", como por exemplo no caso desta compilação de Mariah Carey:

Vocês acham mesmo que esta é a capa saudita do álbum? Não não! A moda saudita indica o caminho: um pouco de Photoshop e magicamente aparecem umas belas calças nas pernas da cantora (e, apesar de não me recordar, estou em crer que o top tambem não seria igual). O que na verdade é uma lástima, dado que a capa é a única coisa do álbum que é mesmo, como o título, #1... pena não ter uma imagem da capa alternativa. :-(

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

RAP no Café com Letras

Tive o privilégio de na noite de quarta-feira passada ter estado presente na Biblioteca Municipal de Oeiras, onde Ricardo Araújo Pereira veio falar para uma audiência que mal cabia dentro da sala (segundo se disse, chegou a exceder a de José Saramago e Lobo Antunes).


Tendo chegado 20 minutos antes da hora, encontrei um lugar sentado (ao contrário das largas dezenas de pessoas que tiveram que permancer em pé ou sentar-se nas escadas). Esperei pacientemente até que Carlos Vaz Marques, o anfitrião, o trouxe até nós. Foram duas horas que passaram depressa e onde RAP demonstrou toda a sua cultura literária, que vão desde sonetos de Bocage, Pessoa (que ele sabe de cor), a José Gomes Ferreira, Lobo Antunes, etc.

Incrível também a facilidade com que consegue "sacar" uma piada de basicamente qualquer assunto. Mesmo sabendo que o seu principal ganha-pão é a escrita humorística, fazer humor "em cima do acontecimento" requer uma dose de genialidade extra!

Por mim, estou fã da iniciativa Café Com Letras. Perder duas horas da nossa vida a ouvir alguém tão inteligente como Ricardo Araújo Pereira a falar sobre diversos assuntos é uma honra. Venham mais assim!

Gostaria de vos deixar com um poema de Bocage, também recitado por RAP. A beleza e a subtileza de um génio :-)

"É pau, e rei dos paus, não marmeleiro, Bem que duas gamboas lhe lobrigo; Dá leite, sem ser árvore de figo, Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro: Verga, e não quebra, como zambujeiro; Oco, qual sabugueiro tem o umbigo; Brando às vezes, qual vime, está consigo; Outras vezes mais rijo que um pinheiro: À roda da raiz produz carqueja: Todo o resto do tronco é calvo e nu; Nem cedro, nem pau-santo mais negreja! Para carvalho ser falta-lhe um U; Adivinhem agora que pau seja, E quem adivinhar meta-o no cu."


Rex mortus est, vivat Rex!

... assim se pensava no final do dia 1 de Fevereiro de 1908, faz hoje precisamente 100 anos. El-Rei D. Carlos regressa a Lisboa vindo de Vila Viçosa, encontrando uma Lisboa tensa, e onde forças mais ou menos radicais congeminavam mudanças mais ou menos radicais. João Franco escapa por sorte a um atentado uns dias antes (simplesmente por ter alterado o seu itinerário nesse dia), e alguém tinha que pagar com o sangue a desgraça da uma Pátria cada vez mais ridícula e miserável, na opinião de muitos.


D. Carlos nega escolta policial reforçada e mesmo o contingente de protecção habitual é reduzido. Para agravar a situação, desloca-se num landau, carruagem aberta, recusando um automóvel. Todas estas circunstâncias contribuiram para o sucesso de Alfredo Costa e Manuel Buiça , tendo este último, exímio atirador e ex-instrutor de tiro no Exército, o responsável pelas balas que mataram o monarca português em pleno Terreiro do Paço. O Príncipe da Coroa, D. Luís Filipe, é também atingido mortalmente.

...e o resto já se sabe. O infante D. Manuel é rei por 2 anos e 8 meses, a I República, o Estado Novo, o 25 Abril... e chegamos ao dia de hoje.

Sempre achei este tema fascinante, e uma das minhas prendas de Natal foi este livro, que descreve com detalhe as movimentações dos diversos grupos existentes, e toda a evolução até ao dia em causa.

Interessante porém a existência de um dito "Site Oficial do Regicídio", que nos brinda à entrada com .... A Portuguesa??? (Porque não o Hymno da Carta?), onde D. Duarte Pio, Príncipe Herdeiro, refere algo muito interessante: "se o 5 de Outubro de 1910 tivesse sido uma coisa boa, o 25 de Abril de 1974 nunca teria sido preciso".

Sou profundamente republicano e recuso liminamente responsabilidades de Estado a alguém só por ser filho de quem manda, mas a verdade é que, após ler um pouco sobre o assunto, concluo que apenas sectores mais extremos como a Carbonária queriam a revolução a qualquer preço, e que de qualquer modo o João Franco era o alvo principal a abater.

Não concordo com o que diz D. Duarte, mas vejo as coisas da seguinte forma: se o regicídio tivesse sido uma coisa boa, o 25 de Abril de 1974 nunca teria sido preciso: a I República nunca se conseguiu libertar do seu cariz revolucionário e anti clerical e estabilizar o País. O Presidente Sidónio Pais é inclusivamente assassinado em 1918. E depois vem a ordem... a ordem de um Estado Novo que nos amordaçou durante 48 anos. Quem sabe se o 5 de Outubro teria ocorrido com um Rei mais experiente no poder... Há historiadores que defendem que se D. Carlos tivesse sobrevivido, Portugal poderia eventualmente entrar numa estabilidade que não via em muitas décadas. Se assim fosse, uma coisa teríamos tido em maior quantidade e qualidade: democracia.

... e perdoem-me a especulação! :-)