domingo, junho 15, 2008

Camionistas, greves & piquetes

Passou-se a greve, errr, perdão, errr, lock out, errr, perdão, o bloqueio...
A vida volta ao normal, e até já abasteci na bomba do Jumbo de Alfragide sem estar numa fila (toda a gente deve ter ido abastecer no dia a seguir ao final da greve, errr, perdão, errr, lock out, errr, perdão, bloqueio...)

O Governo decidiu finalmente, num assomo de generosidade, negociar com a ANTRAM, errr, perdão, com o grupo de camionistas amotinados (há outro nome?).

Onde é que quero chegar? Aos métodos de "persuasão" dos grupos de camionistas, que brincam aos piquetes de greve, à sua maneira.

Exemplo 1: os supermercados Pingo Doce foram abastecidos através de camiões escoltados pelas forças de segurança. Porquê a escolta? Porque senão são, meus caros, apedrejados.

Exemplo 2: um camião isolado é apedrejado. De quem é culpa? Da BT da GNR, que não avisou os "piquetes" (não há aspas que cheguem para colocar na palavra "piquetes") que se tratava de um camião que tratava medicamentos. Ah! Maldita bófia, que não avisa. Porque se avisasse, este camião seria poupado. Em cada camionista amotinado há um potencial D. José I (O Magnânimo!).

Entretanto, um camionista atropela outro mortalmente, em circunstâncias ainda por desvendar completamente...

Sou um gajo novo e ingénuo, e pelos vistos devo dar graças aos céus por isso (Ignorance is bliss!). Mas sempre pensei que os piquetes de greve convenciam os trabalhadores a aderir à greve, distribuiam panfletos, etc., ou seja, faziam ver aos trabalhadores que estes devem fazer uso do seu direito à greve, explicando-lhes os motivos.

Pelos vistos não, isso era apenas fruto da minha ingenuidade. Os ditos piquetes podem praticar actos como
  • destruição de propriedade privada: apedrejar e queimar camiões.
  • bloqueio da via pública.
Segundo ouvi dizer, estes actos são puníveis por lei, e não se enquadram nas medidas grevistas. Pelos vistos, "persuade-se" os colegas trabalhadores através das actividades acima mencionadas.

E o mais interessante é que tantas vezes se fala da prepotência dos patrões perante as greves, das ameaças destes (e não duvido que estas ameaças existam!)... e "o outro lado da barricada" faz-se o que se viu nos canais de televisão.

Será que estou a ficar velho? Fascista? Reaccionário?
Ou será que sempre vi a greve como um direito e não como um dever?

O Governo de Sócrates nunca se caracterizou pela facilidade de diálogo, e as manifestações eram não poucas vezes ignoradas, ou métodos mais ditatoriais como tirar fotografias aos responsáveis pelo aglomerados eram utilizados. Porém, desta vez, e com actividade de perturbação de ordem pública que vão para além da greve em si (direito que, repito, assiste a um grupo de trabalhadores), nada é feito, e pelos vistos os camiões que os ditos piquetes (ou piquês, como referiu um dos amotinados: será familiar do Nelson Piquet?) julguem não ser prioritários serão alvos das actividades persuasivas destes grupos.

O que fez a polícia? Nada. Quem vai ressarcir os donos dos camiões? Desconheço as apólices de seguro dos camiões, mas a destruição de veículos por alteração de ordem pública está longe de ser uma cobertura base.

Não estou com isto a ignorar a luta de um grupo de pessoas, mesmo que dissociadas da ANTRAM. Simplesmente digo que os responsáveis pelos actos descritos acima devem ser chamados à pedra. E termino a pensar que não vou dizer que a polícia de choque devia ter carregado sobre os manifestantes, senão ainda sou eu o apedrejado...


2 comentários:

João Pedro disse...

E no meio disto tudo foi engraçado ver que ninguém do PCP sabia muito bem o que haveria de fazer. Se haveria apoiar uma greve provocada por empresários. Eles até deviam era estar meios desorientados a pensar que merda era esta.

McBrain disse...

Estiveste bem!

Não me tinha lembrado disso. É de facto uma encruzilhada interessantíssima!