terça-feira, novembro 20, 2007

Quem tem medo de Hugo Chávez?

Pelo que sei, o Presidente da República da Venezuela, Hugo Chávez, vai estar (ou estará) neste momento no nosso país.
Esta notícia abriu basicamente todos os noticiários, pelo que deduzo que a estada desta pessoa, ainda que por umas horas e a título não-oficial, seja do mais importante que se passou por cá.
Interessante é também o facto de vários noticiários referirem que a visita foi combinada antes do incidente entre Chávez e o Rei de Espanha ("Porque no te callas?").

Resta agora saber porquê.... não porque é que Chávez não se cala, mas antes porque é que todas estas circunstâncias são mencionadas. Teremos por ventura medo da fúria espanhola ao receber o dito político?

É inclusive dada atenção a uma centena de pessoas que se encontram concentradas em frente ao Aeroporto de Figo Maduro, quiçá para homenagear tão excelsa personalidade. A manifestação espontânea foi organizada pela Associação de Amizade Portugal-Cuba (esse país bastião da liberdade!), e mais algumas associações amantes da liberdade. Gostei de ver os cartazes de apoio à "Revolução Bolivariana".

O que vale Chávez, na minha opinião? Nada. O que vale Chávez para Sócrates, na minha opinião? Vale petróleo e gás natural.

O resultado é a "amizade natural" entre Portugal e Venezuela. Chávez, na sua faceta tolerante (quem diria!) até refere reconhecer "outros sistemas e vias"...

... desde que estes não sejam, claro, os sistemas e vias dos Estados Unidos ou de qualquer pessoa que fale contra ele.

Famosas frases de Chávez como "O Diabo esteve aqui, ainda cheira a enxofre", referindo-se a George W. Bush, ou chamar "fascista" de forma gratuita a Jose Maria Aznar, inserem-se na lógica de chamar a atenção de uma forma simples, mas eficaz. Normalmente costumo chamar às pessoas que emitem estas frases de palhaços. Isto porque não acredito que o Hugo Chávez seja um idiota desprovido de sentido de oportunidade. Afinal, foi eleito pelo povo venezuelano, e numa clara jogada de democracia, alterou a lei 230 da Constituição, que referia

O mandato do Presidente da República é de 6 anos. O Presidente pode ser reeleito de imediato, por apenas uma vez, por um novo período.

Ora, tal foi substituído por:

O mandato do Presidente da República é de 7 anos. O Presidente pode ser reeleito de imediato por um novo período.

Os leitores estão autorizados a jogar ao "Veja as diferenças" com as duas leis. É assim a liberdade. Qualquer tentativa de prorrogar indefinidamente a permanência no poder é pura coincidência!

Há depois outras medidas que não têm como objectivo cercear a liberdade de expressão, mas foram apenas... coincidências o facto de estarmos a falar de uma estação de TV que na sua maioria se opunha às políticas de Chávez. Coincidências, de facto, pois o Governo vigente na Venezuela defende a liberdade... a sua liberdade! (esquecendo-se que a sua liberdade termina onde começa a liberdade dos outros... mas isso, à boa maneira da esquerda caduca, não existe! O que existe é um movimento revolucionário - a "sua liberdade" - e os reaccionários - os que são contra a "sua liberdade")

Porque consegue ser Chávez ser seguido por tantos pelo mundo fora como um exemplo a seguir?

Em primeiro lugar porque tem atenção dos órgãos de comunicação social. Tem projecção por onde passa e isso é importantíssimo para se dar a conhecer.

Em segundo lugar, e talvez seja este o motivo mais decisivo, porque é contra o domínio vigente. Tal e qual um Pinto da Costa lutador contra a hegemonia lisboeta, Chávez é um lutador contra o imperialismo americano e o defensor da verdadeira liberdade! Deste modo, mais importante do que ser a favor de algo, Chávez é contra algo. Mais importante que mostrar a inovação nas suas políticas, é mais simples criticar as de outrem.

Não reconheço qualquer mérito a Chávez. As pequenas melhorias em algumas áreas contrastam com carências inimagináveis num país que está nos Top 10 dos produtores de petróleo.

Quem sabe se um dia a Venezuela de Chávez não será o Paraíso na Terra (à moda de Chávez, entenda-se!). Será talvez no dia em que não houver "inimigos da Venezuela". Será também no mesmo dia em que a opinião única, o líder único, o partido único, atingirão o seu pico. Hoje em dia dizemos "Todos diferentes, todos iguais". Nesse dia diremos, "Todos iguais, todos iguais". Não haverá nada contra que lutar, e a perfeição atinge-se. Até já pequenos detalhes, como a direcção para a qual o cavalo presente no escudo da Venezuela corre, foram pensados! É assim o omnisciente Arquitecto da Revolução!

E a isto, adjectivem-no de "científico", de "utópico", ou "bolivariano". Para mim, é uma treta.

Como diria o Professor Marcelo em relação ao referendo da Interrupção Voluntária da Gravidez: "Assim não!"

6 comentários:

João Pedro disse...

O Chavez é óbviamente o Maior!

José Carlos Gomes disse...

O Chavez não chamou fascista a Aznar de forma gratuita: está documentado o envolvimento de diplomatas espanhóis, sob a alçada de Aznar, no golpe de Estado de extrema-direita que tentou derrubar Hugo Chavez do poder... um poder conquistado eleitoralmente, de forma democraticamente exemplar. Ao contrário, por exemplo, de Bush, que conquistou o primeiro mandato mercê de uma fraude eleitoral.

Mais: Hugo Chavez, goste-se ou não da pessoa, do estilo ou das suas políticas, não alterou a Constituição. Referendou as mudanças. E a esmagadora maioria do povo, em eleições consideradas livres e justas pelos analistas internacionais presentes, concordou com as medidas propostas pelo chefe de Estado.

McBrain disse...

Hugo Chavez, goste-se ou não da pessoa, do estilo ou das suas políticas, não alterou a Constituição. Referendou as mudanças. E a esmagadora maioria do povo, em eleições consideradas livres e justas pelos analistas internacionais presentes, concordou com as medidas propostas pelo chefe de Estado.

Hmmm... mais ou menos como Adolf Hitler ganhou as eleições em 1933? (nota que estou a comparar o método para chegar lá, não as políticas propriamente ditas). E já agora, vamos colocar o incêndio do Reichstag de parte.

O facto de Chávez conseguir por métodos democráticos alterar a constituição de modo a prolongar-se no poder (desde que o Povo o decida, claro!) não faz dele um democrata.
Chávez só é quem é porque se assume como o político anti-Bush número 1. Eis o seu carisma!

Nuno Sal disse...

E mai nada!!!

McBrain disse...

Acabo de ouvir no Programa Alma Nostra, na Antena 1 que:

a) 2 irmãos Presidentes da Câmara
b) Pai é governador
c) 1 irmão Secretário de Estado
d) 1 primo em cargos políticos.

UAU! A isto chamo coincidência... ou alguém que se governa bem!

Ouvi também uma pequena amostra do que Chávez quer referendar, e sinceramente, quero ler mais sobre isto. Porque me custa a acreditar que, como ouvi, que o Governo poderá decidir retirar os bens de um cidadão caso o ache necessário (penso que estamos a excluir situações de penhora e afins). Quero mesmo ler mais sobre isto porque me custa a crer.

McBrain disse...

Fica também um pequeno linque em inglês acerca das acusações de nepotismo no governo Chávez.