Pelo que sei, o Presidente da República da Venezuela, Hugo Chávez, vai estar (ou estará) neste momento no nosso país.
Esta notícia abriu basicamente todos os noticiários, pelo que deduzo que a estada desta pessoa, ainda que por umas horas e a título não-oficial, seja do mais importante que se passou por cá.
Interessante é também o facto de vários noticiários referirem que a visita foi combinada antes do incidente entre Chávez e o Rei de Espanha (
"Porque no te callas?").Resta agora saber
porquê.... não porque é que Chávez não se cala, mas antes porque é que todas estas circunstâncias são mencionadas. Teremos por ventura medo da fúria espanhola ao receber o dito político?
É inclusive dada atenção a uma centena de pessoas que se encontram concentradas em frente ao Aeroporto de Figo Maduro, quiçá para homenagear tão excelsa personalidade. A manifestação espontânea foi organizada pela Associação de Amizade Portugal-Cuba (esse país bastião da liberdade!), e mais algumas associações amantes da liberdade. Gostei de ver os cartazes de apoio à "Revolução Bolivariana".
O que vale Chávez, na minha opinião? Nada. O que vale Chávez para Sócrates, na minha opinião? Vale petróleo e gás natural.
O resultado é a "amizade natural" entre Portugal e Venezuela. Chávez, na sua faceta tolerante (quem diria!) até refere reconhecer "outros sistemas e vias"...
... desde que estes não sejam, claro, os sistemas e vias dos Estados Unidos ou de qualquer pessoa que fale contra ele.
Famosas frases de Chávez como "O Diabo esteve aqui, ainda cheira a enxofre", referindo-se a George W. Bush, ou chamar "fascista" de forma gratuita a Jose Maria Aznar, inserem-se na lógica de chamar a atenção de uma forma simples, mas eficaz. Normalmente costumo chamar às pessoas que emitem estas frases de
palhaços. Isto porque não acredito que o Hugo Chávez seja um idiota desprovido de sentido de oportunidade. Afinal, foi eleito pelo povo venezuelano, e numa clara jogada de democracia, alterou a lei 230 da Constituição, que referia
O mandato do Presidente da República é de 6 anos. O Presidente pode ser reeleito de imediato, por apenas uma vez, por um novo período.Ora, tal foi substituído por
:O mandato do Presidente da República é de 7 anos. O Presidente pode ser reeleito de imediato por um novo período.Os leitores estão autorizados a jogar ao "Veja as diferenças" com as duas leis. É assim a liberdade. Qualquer tentativa de prorrogar indefinidamente a permanência no poder é pura coincidência!
Há depois outras medidas que não têm como objectivo cercear a liberdade de expressão, mas foram apenas... coincidências o facto de estarmos a falar de uma estação de TV que na sua maioria se opunha às políticas de Chávez. Coincidências, de facto, pois o Governo vigente na Venezuela defende a liberdade...
a sua liberdade! (esquecendo-se que a sua liberdade termina onde começa a liberdade dos outros... mas isso, à boa maneira da esquerda caduca, não existe! O que existe é um movimento revolucionário - a "sua liberdade" - e os reaccionários - os que são contra a "sua liberdade")
Porque consegue ser Chávez ser seguido por tantos pelo mundo fora como um exemplo a seguir?
Em primeiro lugar porque tem atenção dos órgãos de comunicação social.
Tem projecção por onde passa e isso é importantíssimo para se dar a conhecer.
Em segundo lugar, e talvez seja este o motivo mais decisivo,
porque é contra o domínio vigente. Tal e qual um Pinto da Costa lutador contra a hegemonia lisboeta, Chávez é um lutador contra o imperialismo americano e o defensor da verdadeira liberdade! Deste modo, mais importante do que ser a favor de algo, Chávez é
contra algo. Mais importante que mostrar a inovação nas suas políticas, é mais simples criticar as de outrem.
Não reconheço qualquer mérito a Chávez. As pequenas melhorias em algumas áreas contrastam com carências inimagináveis num país que está nos
Top 10 dos produtores de petróleo.
Quem sabe se um dia a Venezuela de Chávez não será o Paraíso na Terra (à moda de Chávez, entenda-se!). Será talvez no dia em que não houver "inimigos da Venezuela". Será também no mesmo dia em que a opinião única, o líder único, o partido único, atingirão o seu pico. Hoje em dia dizemos "Todos diferentes, todos iguais". Nesse dia diremos, "Todos iguais, todos iguais". Não haverá nada contra que lutar, e a perfeição atinge-se. Até já pequenos detalhes, como a
direcção para a qual o cavalo presente no escudo da Venezuela corre, foram pensados! É assim o omnisciente Arquitecto da Revolução!
E a isto, adjectivem-no de "científico", de "utópico", ou "bolivariano". Para mim, é uma treta.
Como diria o Professor Marcelo em relação ao referendo da Interrupção Voluntária da Gravidez:
"Assim não!"