Como se sabe, o Governo pensou impor uma taxa de €0,05 sobre os sacos plásticos que todos os dias utilizamos nos supermercados, etc.
A propósito disso, Joana Amaral Dias escreveu uma deliciosa crónica no Público, onde o Sr. José, da mercearia da esquina, faz cara feia quando a cronista recusa mais um saco plástico.
Estamos de tal maneira inundados em sacos plásticos que ignoramos que anualmente são produzidas toneladas de plásticos que usamos uma vez e deitamos fora, como quem deita o caroço de uma peça de fruta. A média de vida de cada saco é de uns efémeros... 12 minutos, ou seja, em toda a sua vida, usamos um saco plásticos 12 minutos. Ora, por muito que este objecto se transforme numa commodity, tal não significa que seja grátis!
É precisamente por ser grátis que desperdiçamos tantos sacos diariamente. E é precisamente também por isso que uma taxa mínima iria reduzir drasticamente o consumo destes sacos.
Veja-se o exemplo do Lidl e do Pingo Doce, onde os clientes já levam sacos de casa. Tudo decorre de forma pacífica. Eu, por minha vez, comprei dois sacos, que me custaram €0,10 cada, e que são trocados gratuitamente assim que se estragarem. Já troquei um, e só lamento esquecer-me deles no carro de vez em quando.
Mesmo assim, tenho um superavit de sacos brutal. Já recuso sacos sempre que necessito, e tenho sempre a sensação que esta recusa, tal e qual como acontece com o merceeiro da crónica de Joana Amaral Dias, causa estranheza.
Não consigo ver uma única razão para não se pagar por um bem; o único motivo seria o facto de nunca termos pago por tal, mas o que está mal, corrige-se. Na Irlanda, em 2002, o Governo impôs uma taxa de €0,12 (!!!), o que fez com que o número de sacos que cada irlandês levasse para casa anualmente descesse de 328 para.... 21 em 2005, e fizeram com que os sacos plásticos, que representavam 5% do total de lixo do país, descessem para 0,22%. Medidas semelhantes estão a ser aplicadas em países como Quénia, Ruanda e Tanzânia.
Porém, no site do Público, ainda há "tugas" (que palavra tão feia, mas condiz com estes seres) que encaram o português no seu pior: acomodado, pedinchão, comodista e que deita a culpa para cima dos outros. Desde pessoas que acham que, ironicamente, também deve ser aplicada uma taxa sobre preservativos (que eu saiba, esses pagam-se, e bem, e se formos a calcular a pegada ecológica de preservativos vs. sacos plásticos... quem comentou isto deve ser MUITO MACHO!), aos que acham que os supermercados deviam ser obrigados a dispensar embalagens (grátis, claro!) ecológicas.
Gostaria de deixar no entanto a opinão de dois super-tugas. Estes sim, representam o que mais triste temos.
Um tuga do Porto revela a sua opinião:
"O xerife de Nottingham já arranjou uma forma de nos ir ao bolso. Quando aparecerá um Robin Hood português para nos salvar desta espécie?"
Ou seja, contra-argumentos = ZERO. Boa! Motivações para esta taxa? Não interessa, temos que pagar, e não pago mais um cêntimo, seja pelo que for!
Já uma tuga da Maia regurgita:
"Realmente só nos falta pagar 'taxas' pelos sacos de plástico dos supermercados! Se isso acontecer, a partir desse dia começo a pôr o lixo, seja ele qual fôr, em qualquer sítio e qualquer lugar [gostei do pleonasmo, revela inspiração poética!]. A separação do lixo em minha casa vai acabar imediatamente e a minha preocupação de levar o lixo aos ecopontos também termina."
Mais uma que não só exprime a sua ira perante um "direito adquirido", ou seja, nadar em sacos plástico! (iupi! Ainda bem que o 25 de Abril nos trouxe alguma coisa boa!)... como também ameaça despejar lixo, em qualquer sítio e qualquer lugar (sic). Era bom é que essa senhora me avisasse quando o fosse fazer: assim verificava que poderia comprar muitos sacos plásticos com o dinheiro que iria pagar em multas por deitar lixo em locais impróprios! Já agora, e para terminar: já pensou em reciclar-se (sim, a si própria!), podia ser que o resultado fosse melhor que o actual!
Só uma pequena questão para este tugas e para todos os que emitem opiniões semelhantes... com a excepção das novas embalagens PET, que pelos vistos são recicláveis e biodegradáveis... quantas centenas de anos demora um saco plástico a decompôr-se? Pensem nisso. Ou então encontrem outra maneira de refrear o consumo compulsivo destes fantásticos adereços do nosso dia a dia.