Sou um "aficionado" pela I Guerra Mundial. Por ter sido o primeiro conflito a nível mundial, por ter sido o primeiro conflito dito "moderno". Mas também por ter sido um conflito resultante de um emaranhado de alianças e de uma paz podre. Costuma dizer-se que enquanto na II Guerra Mundial o Mal lutava contra o Bem (i.e., as forças do Eixo contra os Aliados), na I Guerra Mundial ninguém representava o Bem.
Mas passemos à frente mais de quatro anos de guerra de trincheiras, guerra química, tuberculose, piolhos, mortes, o primeiro horror global.
Acabei de ver um documentário sobre uns dias em que a insignificância da vida atingiu o seu pico. Falo dos últimos dias da Grande Guerra (assim era chamada nos livros de História do meu avô, antes ainda de Hitler decidir invadir a Polónia em 1939), em que o final da guerra era óbvio. O Regime do Kaiser estrebuchava, e as negociações da rendição alemã estavam presas por horas. A partir de dia 8 de Novembro de 1918, tal era um facto praticamente consumado.
Porém, os combates continuaram. Às 5 da manhã de 11/11/1918, é finalmente atingido um acordo. O cessar-fogo final deveria entrar em vigor às 11 horas. Os estafetas percorrem grandes distâncias até à linha da frente. Tendo chegado antes da hora de cessar fogo, os oficiais superiores americanos poderiam ter feito o que um ser humano faria, ou seja, organizar as tropas de modo a que se evitassem mais mortes de um lado e de outro. Porém, a falta de ordens directas até às 11 horas fizeram com que se entrasse num frenesim: a artilharia disparava à sorte, como querendo esgotar as munições antes do final da guerra.
Companhias foram mandadas para a frente de batalha como se mais um dia se tratasse.
O General Pershing, o comandante do Corpo Expedicionário Norte-Americano e o único cidadão norte-americano a ter o título de General of the Armies em vida (o outro cidadão foi George Washington), pelos vistos, tinha em vista a glória como objectivo único, assim como a manada de oficiais superiores que comandavam massas de homens como se de mercadorias fossem.
Enquanto nas ruas dos Estados Unidos se celebrava o Armistício, milhares dos seus soldados morriam em ataques, para espanto do Exército derrotado, que se defendeu como pôde.
Como curiosidade, fica o registo do último soldado americano a morrer na Grande Guerra: Henry Gunther, morto às 10:59, correu de baioneta na mão para o fogo das metralhadoras alemãs, que pelos vistos tentaram evitar a sua morte, acabando por abatê-lo (ver linque aqui). Curiosamente, Henry tinha sido despromovido a soldado por ter escrito uma carta onde expunha a crueza da guerra e fazia propaganda contra esta.
Gostaria de incluir uma citação de um oficial de artilharia do Corpo Expedicionário norte-americano nos últimos dias da Guerra:
"[...]Tenho pena de não entrarmos na Alemanha para podermos arrancar as mãos a umas crianças e o escalpes a uns velhos[...]".
Estas foram as palavras de Harry S. Truman, membro do Exército Norte-Americano.
Se não sabem quem foi este ser, podem consultar aqui. Entre os seus maiores feitos encontra-se a autorização de lançamento das bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki.
Segundo vi num documentário, mais de 3000 soldados norte-americanos foram enviados para a morte por motivos fúteis como a glória pessoal ou porque simplesmente havia chuveiros numa aldeia ocupada pelo inimigo.
As consequências desta atitude dos oficiais de alta patente dos EUA foram prontamente abafadas pelos políticos, para quem não se poderia colocar em causa o patriotismo dos generais americanos. Foi esta a resposta do Governo dos EUA a milhares de cartas de familiares de soldados mortos nestes últimos dias, que perguntavam "Porque é que o meu filho morreu? Morreu em nome do uma guerra que já não existia?".
As consequências da Grande Guerra prolongam-se com a assinatura do Tratado de Versalhes. Alguns alemães, veteranos desta Guerra, não suportam o peso de um tratado escrito em termos de humilhação. O resto chama-se III Reich, II Guerra Mundial, e já sabemos o resto... até porque os vencedores é que fazem a história.
Para terminar, fica uma frase de uma das milhares de cartas recebidas pelo governo dos EUA.
"Para o mundo ele era um soldado. Para mim ele era o mundo."
Mas passemos à frente mais de quatro anos de guerra de trincheiras, guerra química, tuberculose, piolhos, mortes, o primeiro horror global.
Acabei de ver um documentário sobre uns dias em que a insignificância da vida atingiu o seu pico. Falo dos últimos dias da Grande Guerra (assim era chamada nos livros de História do meu avô, antes ainda de Hitler decidir invadir a Polónia em 1939), em que o final da guerra era óbvio. O Regime do Kaiser estrebuchava, e as negociações da rendição alemã estavam presas por horas. A partir de dia 8 de Novembro de 1918, tal era um facto praticamente consumado.
Porém, os combates continuaram. Às 5 da manhã de 11/11/1918, é finalmente atingido um acordo. O cessar-fogo final deveria entrar em vigor às 11 horas. Os estafetas percorrem grandes distâncias até à linha da frente. Tendo chegado antes da hora de cessar fogo, os oficiais superiores americanos poderiam ter feito o que um ser humano faria, ou seja, organizar as tropas de modo a que se evitassem mais mortes de um lado e de outro. Porém, a falta de ordens directas até às 11 horas fizeram com que se entrasse num frenesim: a artilharia disparava à sorte, como querendo esgotar as munições antes do final da guerra.
Companhias foram mandadas para a frente de batalha como se mais um dia se tratasse.
O General Pershing, o comandante do Corpo Expedicionário Norte-Americano e o único cidadão norte-americano a ter o título de General of the Armies em vida (o outro cidadão foi George Washington), pelos vistos, tinha em vista a glória como objectivo único, assim como a manada de oficiais superiores que comandavam massas de homens como se de mercadorias fossem.
Enquanto nas ruas dos Estados Unidos se celebrava o Armistício, milhares dos seus soldados morriam em ataques, para espanto do Exército derrotado, que se defendeu como pôde.
Como curiosidade, fica o registo do último soldado americano a morrer na Grande Guerra: Henry Gunther, morto às 10:59, correu de baioneta na mão para o fogo das metralhadoras alemãs, que pelos vistos tentaram evitar a sua morte, acabando por abatê-lo (ver linque aqui). Curiosamente, Henry tinha sido despromovido a soldado por ter escrito uma carta onde expunha a crueza da guerra e fazia propaganda contra esta.
Gostaria de incluir uma citação de um oficial de artilharia do Corpo Expedicionário norte-americano nos últimos dias da Guerra:
"[...]Tenho pena de não entrarmos na Alemanha para podermos arrancar as mãos a umas crianças e o escalpes a uns velhos[...]".
Estas foram as palavras de Harry S. Truman, membro do Exército Norte-Americano.
Se não sabem quem foi este ser, podem consultar aqui. Entre os seus maiores feitos encontra-se a autorização de lançamento das bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki.
Segundo vi num documentário, mais de 3000 soldados norte-americanos foram enviados para a morte por motivos fúteis como a glória pessoal ou porque simplesmente havia chuveiros numa aldeia ocupada pelo inimigo.
As consequências desta atitude dos oficiais de alta patente dos EUA foram prontamente abafadas pelos políticos, para quem não se poderia colocar em causa o patriotismo dos generais americanos. Foi esta a resposta do Governo dos EUA a milhares de cartas de familiares de soldados mortos nestes últimos dias, que perguntavam "Porque é que o meu filho morreu? Morreu em nome do uma guerra que já não existia?".
As consequências da Grande Guerra prolongam-se com a assinatura do Tratado de Versalhes. Alguns alemães, veteranos desta Guerra, não suportam o peso de um tratado escrito em termos de humilhação. O resto chama-se III Reich, II Guerra Mundial, e já sabemos o resto... até porque os vencedores é que fazem a história.
Para terminar, fica uma frase de uma das milhares de cartas recebidas pelo governo dos EUA.
"Para o mundo ele era um soldado. Para mim ele era o mundo."