domingo, julho 30, 2006

Bem vindo ao Turquemenistão

Venho hoje falar-vos de um país que pertenceria ao universo dos Monty Python ou de Charles Chaplin, não fosse demasiado triste para ser verdade.

Falo da fantástica República do Turquemenistão, Türkmenistan Jumhuriyäti de sua graça.

Neste fantástico país, ex-República Socialista Soviética Turquemen, o Chefe de Estado, Saparmyrat Ataýewiç Nyýazow, mantém um regime muito.... pessoal.
Conheci este senhor quando o "Público" publicou um pequeno artigo sobre ele e a sua grande obra, Ruhnama.

Ora, a partir daí comecei a investigar mais sobre este pequeno país encravado entre o Afeganistão, o Irão, o Uzebequistão e o Mar Cáspio (que ricos vizinhos!). Independente desde 1991, o seu único líder até agora, o Sr. Niazov é também o chefe do único partido permitido, o Partido Democrático do Turquemenistão (belo nome!), que de uma forma muito democrática, elegeu o senhor Niazov vitaliciamente (a democracia é uma coisa muito bonita; não admira que os fundamentalistas islâmicos estejam contra a democracia, isto não se faz!).

Ia começar a escrever apenas sobre o Ruhnama, mas vou falar-vos mais deste grande homem (1,54 metros de altura - e já agora, cuidado com os comentários acerca da altura do homem, parece que são proibidos...), jovem (em imagens com alguns anos aparecia de cabelo branco, mas neste momento aparece com um negro e vasto cabelo: está a ficar mais novo em cada dia que passa, apesar dos seus 66 anos, como podem ver aqui!).
Com a desculpa que falta uma "identidade nacional" ao Turquemenistão, após 74 anos de domínio soviético, este senhor, com o cognome de Türkmenbaşy, Туркменбаши ou Turkmenbashy, significando "Chefe dos Turquemenes", empreendeu uma autêntica revolução cultural por todo o pais, senão vejamos:

  • O logotipo da TV local tem o seu perfil
  • Existem passaportes internos, no caso um cidadão turquemene querer deslocar-se no país
  • Uma estátua de 15 metros da sua pessoa coberta a ouro está colocada num pedestal rotativo em Ashgabagat (a capital), de modo a que o grande líder esteja sempre de frente para o sol.
  • Recentemente, o presidente Niazov publicou um decreto onde se declara que quem ler o seu livro Ruhnama três vezes ficará "mais inteligente e irá directamente para o céu" (sem passar pela casa partida e sem receber 2000$? Isso não é justo, mais parece um cartão de Prisão do monopólio!), isto após pedido expresso do Turkmenbashy a Alá.
  • A cidade de Krasnovodsk foi renomeada para Turkmenbashy
  • ...isto já para não falar em escolas, e até... um meteorito.
  • 5 vezes reconhecido como "Herói do Turquemenistão" (não sei qual a definição de "herói" nesse país...)
  • Os livros soviéticos foram banidos, pelo que praticamente as únicas obras existentes hoje em dia são obras do próprio Niazov. Aliás, em 2004 o sagaz Turkmenbashy encerrou todas as bibliotecas rurais baseado no facto que "os camponeses não sabem ler e não, por isso...."
  • Na sua terra natal de Kipchak, foi construída uma mesquita de 100 milhões de dólares (ah, grande empreiteiro!)... em honra da sua mãe (pois claro! O Amor de Mãe tem que ser demonstrado!)
  • Os dias e meses do ano têm nomes de heróis nacionais, com Janeiro a chamar-se "Turkmenbashi" (que raio de coincidência)
  • 15000 trabalhadores do ramo médico foram despedidos em 2005. Porquê? "Para quê desperdiçar bons especialistas nas aldeias quando estes deveriam estar na capital a trabalhar?"
  • Foi construído um "Palácio de Gelo", que custou 21,5 milhões de dólares (NOTA: o Turquemenistão é um dos países mais quentes do Mundo).
Mas o grande líder não se preocupa apenas com assuntos estruturais; outros decretos foram criados de modo a colocar o Turquemenistão como um país "muito à frente"!

  • o playback de músicas está proibido (até concordo, vê-se cada miséria na TV portuguesa que se calhar isso até seria bom)
  • Em Dezembro de 1999, foi ordenado que todos os alunos, estudantes e militares de todas as patentes fossem presenteados no dia de Ano Novo com um relógio com a face do Presidente Saparmurat Niyazov
  • Os ballets e óperas foram todos encerrados, dado não serem parte da cultura turquemene.
  • Música gravada está proibida
  • A partir de 2001, os jovens estão proibidos de usar barba ou cabelo comprido.
  • Qualquer estrangeiro que deseja casar com um(a) cidadã(o) do Turquemenistão terá que pagar uma taxa de 50.000 dólares. (quem é que quer casar com eles, anyway?)
  • a palavra "pão" mudou de nome de chorek para Gurbansoltan edzhe, ou seja, o nome da mãe (será a maneira de se agradecer a amamentação?)
  • Em Abril de 2004 foi recomendado aos jovens que não usassem dentes e coroas de ouro, sugerindo que roessem ossos para "preservar os dentes".
  • Em Novembro de 2005 foi ordenado aos médicos que não fizessem mais o juramento a Hipócrates, mas a ele próprio.
  • Em Agosto de 2002, as fases da vida humana foram redefinidas, passando a adolescência a durar até aos 25 e a velhice apenas a partir dos 85 (cheira-me que no Turquemenistão não deve haver muitos velhos...). Mais detalhadamente:
    • Criança: dos 0 aos 12
    • Adolescente: 13 aos 24
    • Jovem: 25 aos 35
    • Maduro: 36 aos 48
    • Profético: 49 aos 60
    • Inspirador: 61 aos 72
    • Sábio: 73 aos 84
    • Velho: 85 aos 96
    • Como Oguzkhan: após os 97 anos de idade. (Oguzkhan, considerado o líder da Nação Turquemene, viveu até aos 109).
Só para conhecimento, o seu nome oficial é: Sua Excelência, Saparmurat Niyazov "Turkmenbashi" Presidente do Turquemenistão e Presidente do Concelho de Ministros". Pronto, já conheceram aquele que poderia ser o "líder de todos nós"... fossemos nós turquemenes!
Se isto não pusesse em sofrimento os 6 milhões de nacionais, até era capaz de ter piada..

Alguém que emigrar para lá?

Já agora, se alguém quiser o grande "Ruhnama" em Turquemene, Turco, Russo ou Inglês, podem encomendá-lo aqui. A segunda edição já saiu, 440 páginas de pura sabedoria

domingo, julho 16, 2006

Ida ao Supermercado

Acordei, tomei banho, peguei na minha mochila azul e lá fui eu, debaixo de um sol quente como não se tinha visto na zona. Se já custa um pouco fazer os pouco mais de 1000 m até ao meu destino com o saco vazio, como não será à vinda...
O caminho era o do costume: Farleigh Road, passando pela ponte por cima da linha dos caminhos de ferro, virar à direita em Broadoak Road, e seguir pela estrada durante uns 700 metros; do lado direito abundam as pequenas típicas casas da região, enquanto à esquerda apenas campos e árvores num terreno que é apenas ocupado uns dias por ano para concertos e outras demonstrações culturais.
Chego à rotunda de St. Stephen e viro à na terceira estrada, contemplando de imediato o ginásio com a excelente promoção para quem desejar utilizar as piscinas. Prossigo pelo lado direito da estrada (contra o sentido do trânsito, como se deve fazer) e passo por cima do Great Stour. O jardim em baixo é pequeno, mas bonito e bucólico.
Já vejo a pouco mais de 100 metros de mim o o meu objectivo final, o Sainsbury's. Ainda não são 10h (de facto, esta de abrir às 10 ao Domingo... nos outros dias às 7 já está cá gente!), mas já o parque já se encontra com bastantes veículos.
Felizmente ainda tenho tempo para tomar o pequeno almoço no Starbuck's que faz parte do supermercado. O meu pequeno e praticamente único luxo semanal: um pequeno almoço de pouco mais de £3: o costume: um blueberry muffin e um caramel macchiato.
Sento-me nos sofás, e ao contrário do que se passa em outros sítios onde possa tomar o pequeno-almoço, não gosto de ler, prefiro observar quem chega ao local ou quem entra directmente para o supermercado que entretanto já abriu, ou então distrair-me com a omnipresente Catedral, vigilante, que se vê por detrás de um arvoredo que rodeia o parque de estacionamento.
Pago, entro no supermercado (existe uma passagem directa), e faço as minhas compras do costume: lemon curd, uma garrafa de água, frango, manteiga, azeite, chá, leite, pão de forma e a deliciosa cavala fumada que será a minha refeição hoje, após uns minutos de forno.
Dirijo-me para a saída e....


.... afinal estou dentro do meu carro, estremunhado e sobressaltado pelo ruído do claxon de um camião que acabava de passar em direcção à 2ª. Circular. O meu destino: o Carrefour.

I miss you sometimes...
























Para quem quiser verificar o caminho, aqui está ele, no Via Michelin. Podem sempre procurar o equivalente no Google Maps ou no Google Earth.

"À Volta do Mundo" gostaria de desculpar os seus (in)fiéis leitores pela sua pouca assiduidade, e prometer que tentará ser mais regular nas actualizações...